CEO, uma aventura
Jorge Ruivo
O Brasil é um país com características muito próprias. Se por um lado temos riquezas naturais em abundância, também temos problemas estruturais básicos em maior quantidade ainda, muitos deles por falta de um governo sério que pense como estadista, políticas de investimentos públicos seguras, mercados estáveis internamente no curto e médio prazo que garantam retorno de capital produtivo com razoável previsibilidade e não o especulativo.
Somente para citar dois setores basta olharmos para quem investiu no sucroalcooleiro na produção do etanol com vários players internacionais apostando no Brasil e outro, nas fornecedoras de peças para montadoras com farto crédito para compra de veículos que se verá o desastre e a situação dos CEOs que vivem ou viveram o apagar das luzes com fechamento de unidades, renegociações de dívidas até a recuperação judicial. Esta atmosfera faz do dia a dia de qualquer investidor ou CEO uma verdadeira aventura. Estar como CEO determina estado de alerta insalubre todo o tempo para gerenciar e monitorar planejamentos, orçamentos, metas e resultados que devem ser vistos e revistos constantemente e algo extremamente intangível que é a frustração de ver uma jornada de esforços se esvair, por mais que existam aqueles talhados para manterem o olhar frio de que é apenas negócio (“business”).
Como alternativa a esse cenário os CEOs devem construir, formar e manter equipes de executivos bem preparadas, ecléticas e com grau de autonomia necessário para fazer fluir o dia a dia, com um time que a troca é produtiva e contributiva, atenuando assim a tensão e abrindo espaço para melhor acompanhamento das operações e dos negócios. Esta receita não é muito fácil devido a um conjunto de dificuldades como: encontrar bons executivos com maturidade, capacidade de decisão e formadores de equipes, adotar um plano de metas tangível que os desafiem positivamente e assegurar-se de um modelo de remuneração capaz de mantê-los focado em resultados minimizando as possibilidades de sucumbirem aos constantes convites do mercado para trocarem de endereço.
Fora a pressão do Brasil em seu atual momento político e econômico, a universalização dos negócios e mercados já produz o efeito de competição constante que determina um tripé composto por produtividade, qualidade e capacidade de entrega de produtos e serviços. O que é grave neste tripé e a nossa qualidade de mão de obra que não absorve 100% dos treinamentos realizados pelas empresas em razão, principalmente, às deficiências na formação cultural do ensino básico que comprometem a capacidade de compreender e de se expressar.
A salvação do negócio também está na redução de custos, mas para se manter competitiva a empresa precisará arcar com investimentos em educação suplementar para minimamente manter seus funcionários atendendo demandas, ou seja, trazendo para si uma responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal pela sua total inépcia. A área de Recursos Humanos bem aparelhada e com participação efetiva no comando dos negócios poderá construir caminhos e ferramentas que se tornem diferenciais, com retornos garantidos, além de reter e desenvolver ao máximo sua força de trabalho.
O custo de nossa ineficiência é altíssimo, basta verificar que 50% ou mais de todas as tarefas realizadas por um funcionário cabem revisão, simplificação, otimização ou reparos porque adotam determinadas seqüências que não são as melhores, mais curtas, baratas ou eficazes, corroendo lucros e competitividade, demandando treinamentos constantes na busca de diminuir ou sonhar com o término do retrabalho. Claramente os CEO’s devem prever em seus orçamentos investimentos com treinamento e desenvolvimento.
Mas os CEO’s ainda contam com outra deficiência grave constatada em mais de 70% das empresas, as quais são desprovidas de processos administrativos e operacionais formais, os quais determinam como uma tarefa deve ser realizada para que se alcance a eficiência necessária. Essas empresas entendem (intrinsecamente) que o processo esta na experiência de quem irá realizá-lo. Esta aí um grande equívoco que compromete qualidade, tempo e, portanto, custa mais caro. Entender que cada um faça de seu jeito deve ser revisto, quem é dono e responsável pelo processo é a empresa e não o funcionário, o qual pode e deve contribuir para que seja melhorado, mas como contribuição e não responsabilidade.
Jorge Ruivo é presidente da Wiabiliza Consultoria Empresarial