Wiabiliza e Leme – Salários e Tendências de Mercado 2020
Seguindo tendência mundial, organizações no Brasil preparam-se para substituir cargos repetitivos pela inteligência robótica.
Permanecerão empregados os profissionais que conseguirem agregar inteligência às rotinas, de modo a transformarem seus cargos em artigos valiosos. As atividades de análises e consistência, que necessitam de um ser humano por trás, ganharão peso, alterando a estrutura de remuneração da empresa. Já o mero cumpridor de tarefas terá cada vez mais dificuldade de se recolocar, sendo substituído pela automação.
O presidente da Wiabiliza Soluções Empresariais, Jorge Ruivo, e consultor e CSCEO da Leme Consultoria, Renan de Marchi Sinachi, participaram na terça-feira, 17 de março, de um webnar que teve como tema as tendências de cargos e salários para o ano de 2020. Confira os pontos altos da conversa:
Sinachi – Jorge Ruivo, considerando os seus anos de experiência em consultoria empresarial, quem quebrou e quem sobreviveu às crises?
Ruivo – Aprendemos muito com as crises e vivemos em uma eterna gangorra. Como especialista em remuneração, com trinta e três anos de experiência em consultoria e dentro das empresas, afirmo que a remuneração não sofre muitos impactos dentro de cenários com fortes oscilações. Percebi que as empresas, quando estão bem estruturadas, sejam elas pequenas, médias e grandes, sobrevivem bem.
Quanto a grande, por mais potencial que ela tenha, se não estiver estruturada, se afunda ainda mais em um buraco, porque não tem como trabalhar rapidamente ou não tem como sustentar profissionais importantes, então essa grande empresa vai se perdendo ao longo do caminho. E a concorrência é impiedosa. Eu sempre digo a seguinte frase: o dinheiro não termina, ele troca de mãos. Essa é uma verdade que eu tenho vivido.
Sou um profissional que já trabalhou em grandes empresas que não existem mais, só para citar algumas: Corporação Bonfiglioli, que quebrou por falta de gestão, a Sharp… se não houver gestão, a empresa vai cavando um pequeno buraco todos os dias que irá engoli-la lá na frente. Outro ponto importante é a remuneração: quem não tem a informação de mercado fica defasado, não sabe como tomar uma decisão e não sabe se essa decisão está correta.
Sinachi – Eu gostaria de falar sobre o Centro de Serviço Compartilhado nas Empresas, o que você acha disso?
Ruivo – Acho ótimo, porque há um movimento que está acontecendo no mercado que reúne três pilares: ser ágil, enxuto e simples. E essas três palavras cabem muito bem no Centro de Serviço Compartilhado. Trazer para uma estrutura única, um rateio de custos, é fundamental. Há muito tempo a Wiabiliza vem trabalhando com processos, uma área que vai além dos Recursos Humanos, e temos feito muita revisão de processos.
Essa revisão implica em diminuir as atividades mais rasas, substituindo-as por informatização, que passa a ser controlado por um software, e as atividades maiores ganham mais consistência. Na Europa e nos Estados Unidos as estruturas estão sendo enxugadas. As atividades maiores, de análises e de consistência, as quais necessitam de um ser humano por trás, e não uma máquina, ganharão peso e mudará totalmente a estrutura de remuneração da empresa.
Haverá uma sobra no mercado da mão-de-obra básica e teremos dificuldade de contratar profissionais com visão mais abrangente, podendo haver uma amplitude de competências em alguns cargos e na estrutura profissional. Quem as alcançar, conseguirá atender às exigências e às demandas do mercado. Ou seja, haverá muito profissional da base sobrando e especialistas faltando. A área de remuneração, sempre que oprimida, eleva a remuneração, foi o que vimos de 2008 a 2011, quando o Brasil estava em pleno emprego. Nesta época, não conseguíamos contratar executivos.
Para os cargos de diretoria, só encontrávamos gerentes disponíveis à vaga. Para atender à pretensão do diretor, as empresas tinham de avançar quase 40% da média de mercado, o que desestruturava as empresas. Quando se contrata alguém ganhando mais, em pouco tempo, toda a empresa sabe que aquele novo funcionário ganhará mais, gerando desequilíbrio interno.
Haverá muita modificação e enxugamento de estrutura, e o CSC concentrará o custo de várias unidades, o que a Wiabiliza tem feito na área do agronegócio. Outra vantagem do CSC é a padronização da gestão, evitando que cada liderança implemente seu modo particular de administrar.
Quando cada um faz do seu melhor jeito, mesmo assim não significa que seja o melhor para a empresa. O CSC veio para ficar, pois à medida que as empresas tenham mais de uma unidade, terão de centralizar a gestão.
Renan – Muitos cargos estão sendo substituídos pela inteligência robótica e os que exigem competência intelectual sobreviverão nas organizações.
Os que permanecerem terão uma valoração, pois há um processo em andamento, que é a automação administrativa, muitas delas oriundas do CSC. Portanto, os cargos que apresentam tendência de alta são os que decorrem do processo de automação administrativa, com elevada remuneração. Neste contexto, as pessoas precisarão pensar no seu trabalho como um negócio e operacionalizar sua rotina de forma inteligente, transformando-a em um artigo valioso para a empresa.
O profissional mero cumpridor de tarefas terá cada vez mais dificuldade de se recolocar, porque é fácil de ser substituído. O processo que é fácil de ser mapeado, é fácil de ser substituído também. Então é importante que os profissionais entendam que chegou a vez da inteligência, e os cargos operacionais repetitivos, em curto espaço de tempo, terão de aceitar salários menores e, no longo prazo, ficarão desempregados. Tem de ser inteligente no trabalho.
Ruivo – Digo aos profissionais: ampliem suas competências. Se antecipem. Ninguém melhor do que o próprio profissional conhece as atividades que executa, sabe o que pode ser automatizado e o que depende de cabeça humana para buscar soluções. Se você não aumentar suas competências, não conseguirá se atualizar em um mercado que será cada vez mais restrito. A tendência é a busca por profissionais cada vez mais preparados, que não estarão disponíveis, e o que estarão, serão disputados.
Sinachi – Empresas dizem que a Avaliação de Desempenho vai desaparecer e o foco será o feedback? Como reconhecer a meritocracia nestes casos?
Ruivo – Não vai desaparecer, só vem mudando de nome. Era avaliação de desempenho, depois gestão de desempenho por competência, hoje, é gestão de desempenho por talentos… a crítica construtiva que eu faço é: o RH precisa tomar cuidado com esses apelidos modernistas, mas que não acrescentam. Medir desempenho sempre vai acontecer. Se uma empresa não consegue medir se aquele funcionário lhe custa e não entrega o suficiente, está cavando um buraco rumo à queda.
As empresas de todos os portes precisam que os funcionários tenham uma entrega dentro do previsto e como avaliar se essa entrega foi feita com qualidade versus custos, se não há uma ferramenta de acompanhamento? Seja um gestor ou um presidente, eles precisam de treinamento para cuidar de gente, que essas pessoas que se reportam a você produzam dentro dos padrões e quantidades necessárias.
Sinachi – Sim, a gestão de remuneração e a avaliação de desempenho não vão acabar, são ferramentas que estão em transformação, se tornando melhores. Agora, Ruivo, as empresas precisam melhorar suas gestões, pois empresa não é só folha de pagamentos…
Ruivo – Eu gostaria de completar seu raciocínio com o seguinte: empresa precisa de gente, e o gestor é o líder, que se não tiver formação e empatia com cada membro do seu time, não haverá resultado. A empresa pode colocar a melhor mesa, a melhor cadeira, o melhor refeitório, o melhor salário, e não significa que conseguirá segurar o funcionário ali. O funcionário que tem um péssimo líder, se tiver a opção de mudar, e no pleno emprego vimos muito disso, mudará para ganhar um pouquinho menos em razão do ambiente de trabalho.
Sinachi – Mantenha a sua equipe engajada, busque apoio, porque aquela dica gratuita não resolverá o problema do longo prazo.
Ruivo – Como nós consultores circulamos por diversos ambientes empresariais, agregamos um volume de informações e experiência diferenciados, e eu sempre digo o seguinte, hoje comprar serviço é economizar tempo e recursos. Nós transferimos conhecimento ao cliente e isso é muito importante. O cliente acompanha a construção, a implantação e a manutenção do programa e isso não tem preço! E diante do atual contexto das leis trabalhistas, como o trabalho intermitente, a área de remuneração se tornou importantíssima para definir os valores salariais.