Empresas querem se adequar, mas ainda há dúvidas

Valor Econômico | Letícia Arcoverde – São Paulo

A maioria das empresas já está se movimentando para adequar seus processos ao eSocial, o novo sistema de coleta e envio de informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais desenvolvido pelo governo federal. Ainda assim, boa parte delas admite ter um baixo grau de entendimento em relação às exigências do novo sistema.

É o que mostra uma pesquisa com 280 empresas de 16 segmentos, realizada pela Wiabiliza Consultoria Empresarial. Para Claudemir Duarte, consultor em gestão de pessoas, a situação expõe a fragilidade das companhias, que é agravada pelo despreparo dos profissionais de recursos humanos – responsáveis pelo envio de dados, em 90% dos casos. “O tipo de informação que o eSocial vai exigir impacta não só o RH, mas o funcionamento de toda a empresa”, diz. De acordo com o levantamento, 78% das companhias já possuem algum envolvimento ou projeto interno dedicado ao eSocial.

A segunda versão do manual e dos layouts foi disponibilizada pelo governo no fim de fevereiro. Embora a pesquisa tenha sido realizada após essa divulgação, metade das empresas consultadas consideram que seus gestores estão apenas parcialmente conscientes e comprometidos com as necessidades do eSocial. “Elas dizem que estão aguardando o cronograma, mas o governo liberou essas ferramentas justamente para as empresas se prepararem ao longo de 2015”, diz.

No segundo semestre deste ano, já será possível fazer testes de envio das informações e, no ano que vem está previsto o início do sistema para as empresas no lucro real (com receita anual de até R$ 78 milhões). Apenas 20% das companhias que participaram da pesquisa consideram que seus gestores estão comprometidos. Uma parte de mesmo tamanho (21%) ainda não identificou os impactos do eSocial sobre a cultura organizacional e a gestão de risco, e 9% acompanham de longe as novas regras, pois consideram que o software de folha de pagamentos atenderá a todas as necessidades.

Para Duarte, os números mostram uma falta de preparo entre profissionais da área de recursos humanos. “Esse funcionário deverá ser crítico, analisar rapidamente uma informação e saber se ela pode ou não ser transmitida. Posteriormente poderá ter que esclarecer discrepâncias e prestar contas aos órgãos fiscalizadores”, enfatiza. O consultor estima que a atividade dos departamentos de RH terá um acréscimo de 30% em decorrência do eSocial. “Mais do que transmitir a informação corretamente, será essencial entender o impacto que esse processo vai ter para a empresa”, diz.

Ainda que o eSocial não mude a legislação, ele transforma a maneira como informações trabalhistas são enviadas aos órgãos fiscalizadores. Dados que hoje são disponibilizados uma vez por mês, por exemplo, deverão ser atualizados praticamente em tempo real. Isso torna mais fácil o cruzamento de informações que possam revelar irregularidades hoje vistas como corriqueiras. Como exemplos de situações de risco, Duarte cita o excesso de horas extras trabalhadas ou a prática de pagar salários diferentes a profissionais em um mesmo cargo.

A aplicação da legislação trabalhista é citada pelas companhias pesquisadas como a segunda maior preocupação diante das novas obrigações, logo após a integração de dados de origens diversas. “Não é só software, é qualidade da informação. O fato de as empresas admitirem a dificuldade de aplicar as leis trabalhistas mostra como elas estarão fragilizadas quando o eSocial começar”.

Em último lugar na lista de preocupações está a capacidade da equipe, algo que o consultor considera um dos principais pontos que ainda precisam ser abordados pelas companhias. “Quem já está se preparando terá melhores condições de sair na frente”, afirma.

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